quarta-feira, 30 de março de 2011

Palavra de Vida de abril de 2011.

“Não o que eu quero, porém o que tu queres.”

(Mc 14,36) Jesus está no Horto das Oliveiras, na propriedade chamada Getsêmani. A hora tão esperada chegou. É o momento crucial de toda a sua existência. Ele se prostra por terra e suplica a Deus, chamando-o de “Pai”, numa confidência cheia de ternura, para que “afaste dele esse cálice” (cf. Mt 14,36), expressão que se refere à sua Paixão e Morte. Jesus pede ao Pai que aquela hora passe… Mas por fim entrega-se completamente à vontade de Deus:

“Não o que eu quero, porém o que tu queres.”

Jesus sabe que a sua Paixão não é um acontecimento casual, nem simplesmente uma decisão dos homens, mas é um plano de Deus. Ele será processado e rejeitado pelos homens; o “cálice”, porém, vem das mãos de Deus. Jesus nos ensina que o Pai tem um plano de amor para cada um de nós, que Ele nos ama com um amor pessoal e, se acreditarmos nesse amor e correspondermos com o nosso amor – é essa a condição –, Ele fará com que tudo acabe servindo para o bem. Para Jesus, nada aconteceu por acaso, nem sequer a Paixão e a Morte. Depois, aconteceu a Ressurreição, cuja festa solene celebramos neste mês. O exemplo de Jesus, o Ressuscitado, deve servir de luz para a nossa vida. Devemos saber interpretar tudo o que vem ao nosso encontro, o que acontece, o que nos rodeia, inclusive tudo o que nos faz sofrer, como vontade de Deus que nos ama, ou como uma permissão de Deus que nos ama também assim. Então, tudo na vida terá sentido, tudo será extremamente útil, mesmo aquilo que, na hora, nos parece incompreensível e absurdo, mesmo aquilo que nos pode fazer precipitar numa angústia mortal, como aconteceu com Jesus. Será suficiente que, junto com ele, saibamos repetir, num ato de confiança total no amor do Pai:

“Não o que eu quero, porém o que tu queres.”

A vontade dele é que vivamos, que lhe agradeçamos com alegria pelas dádivas da vida. Mas, às vezes, sua vontade certamente não é aquilo que se pensa: não é uma situação diante da qual temos de nos resignar, especialmente quando deparamos com a dor; nem é uma sucessão de atos monótonos espalhados ao longo da nossa existência. A vontade de Deus é a sua voz que nos fala e nos convida continuamente; é o modo pelo qual ele nos expressa o seu amor para nos dar a sua plenitude de Vida. Poderíamos fazer uma representação disso com a imagem do sol, cujos raios seriam a sua vontade para cada um de nós. Cada pessoa caminha ao longo de um raio, diferente do raio de quem está ao seu lado mas também caminha num raio de sol, ou seja, na vontade de Deus. Portanto, todos nós fazemos uma única vontade, a de Deus; no entanto, ela é diferente para cada um. Além disso, os raios, quanto mais se aproximam do Sol, tanto mais se aproximam entre si. Também nós, quanto mais nos aproximamos de Deus, pela observância sempre mais perfeita da vontade divina, tanto mais nos aproximamos entre nós… até sermos todos um. Vivendo assim, tudo na nossa vida pode mudar. Em vez de procurarmos aqueles dos quais gostamos e amar somente a eles, podemos dar atenção a todos aqueles que a vontade de Deus põe ao nosso lado. Em vez de preferirmos as coisas que mais nos agradam, podemos dedicar-nos àquelas que a vontade de Deus nos sugere e preferi-las. Se estivermos inteiramente projetados na vontade divina daquele momento (“o que Tu queres”), seremos consequentemente levados ao desapego de todas as coisas e do nosso eu (“não o que eu quero”). Esse desprendimento não é tanto resultado de uma busca proposital – porque se deve buscar só a Deus –, mas é algo que acontece de fato. Então a alegria será completa. Basta mergulharmos no momento que passa e cumprir naquele instante a vontade de Deus, repetindo:

“Não o que eu quero, porém o que tu queres.”

O momento que passou não existe mais; o momento futuro ainda não está em nosso poder. Acontece como a um passageiro no trem: para chegar ao destino, ele não fica andando para frente e para trás, mas permanece sentado no seu lugar. Assim, devemos ficar fixos no presente; o trem do tempo viaja por si. Só podemos amar a Deus no momento presente que nos é dado, pronunciando o próprio “sim” vigoroso, radical, ativíssimo à vontade dele. Portanto, vamos amar aquele sorriso que podemos oferecer, aquele trabalho a ser executado, aquele carro a ser conduzido, aquela refeição a ser preparada, aquela atividade a ser organizada, aquela pessoa que sofre ao nosso lado. Nem sequer a provação ou o sofrimento nos devem assustar se, com Jesus, soubermos reconhecer neles a vontade de Deus, ou seja, o seu amor para cada um de nós. Não só: poderemos até mesmo orar assim: “Senhor, faze que eu nada tenha a temer, porque tudo o que vai acontecer será nada mais que a tua vontade! Senhor, faze que eu não tenha nenhum desejo, porque nada é mais desejável do que exclusivamente a tua vontade. O que importa na vida? Importa a tua vontade. Faze que eu não fique perturbado com nada, porque em tudo se encontra a tua vontade. Faze que eu não fique empolgado com nada, porque tudo é tua vontade.”

Chiara Lubich








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